Não faltarão peregrinos que perguntarão porque as conchas (vieiras) têm tanto significado jacobeu. Muitas lendas, histórias e anedotas se contam.
Uma das versões conta que que perto do local onde amarrou a embarcação com o corpo de Santiago se dava um casamento. Durante a procissão dos noivos pela praia a cavalo, da igreja para casa, o noivo viu a embarcação ao fundo e como estavam muitas ondas, meteu-se ao mar com o seu cavalo para ajudar os navegantes. No entanto, o próprio noivo foi tragado pelas ondas e ao ver-se a afogar-se pediu ajuda a Deus, quem levou a onda a arrasta-lo até terra firme. Quando apareceu na areia o noivo estava coberto de vieiras. Todos os que observaram consideraram isto um milagre que atribuíram ao corpo de Santiago que trazia esse barco, ficando para sempre unida a imagem de Santiago às conchas vieiras.
A origem verdadeira, e mais lógica, parece derivar-se do facto que os peregrinos que regressavam de Finisterra – fim do mundo conhecido naquela época – deviam mostrar aos seus familiares e amigos, alguma prova ou símbolo que testemunhasse terem cumprido com êxito a sua peregrinação até Compostela. O mar era um grande desconhecido dos europeus, habitantes da parte central, como eles sabiam que o Santo Sepulcro de Santiago estava perto da costa, nada mais justo que os peregrinos, ao regressarem a casa, levassem uma concha como recordação e testemunho da sua peregrinação. Daí o costume de colherem uma concha junto ao mar, onde iam depois de terem orado junto a tumba do Apostolo. Dessa aventura marítima, nasce o mito que fez das conchas de vieira um dos símbolos dos peregrinos a Santiago de Compostela. É assim que desde a Idade Média, a concha de vieira, posta no peito, se tornou a marca inequívoca que permitia o acesso às hospedarias.
A lenda contada acima aparece no livro “Historia del Apostol de Iesus Chisto Santiago Zebedeo Patrón y Capitan General de las Españas”, de D. Mauro Castellá y Ferrer, um livro antigo reeditado pela Xunta de Galicia, e que faz menção ao milagre do Cavaleiro en la página 124 y siguientes, donde se lee:
“MILAGRO QUE OBRO DIOS POR EL APOSTOL SANTIAGO EN EL MAR OCCIDENTAL DE ESPAÑA, ANTES DE LLEGAR SU SANTISIMO CUERPO A IRIA FLAVIA”.
“…….. Cando chegaron dereitos de Portugal, e xa por la costa de Galicia, à un lugar que chaman Bouzas había unha grande festa…” Sigue haciendo mención de que muchos de los hombres a caballo hacían manifestación de su hombría jugando con lanzas (bafordo), “Entre estes que bafordaban, bafordaba o noivo no seu corcel ía bafordando, o cabalo dun súpeto pulo meteuse no mar e mergullóu. E só víase como un ronsel de escamas que aboiban por riba das onda do mar e ía cara a nave ú andaba o Corpo de Sant-Iago. En cabo saíu o cabalo co seu cabaleiro a tona do mar alí mesmo á carón da nave: E todos desde terra poderon albiscar aquel mirage. E o cabaleiro catouse, e víu o cabalo e a sela e o pectoral e as estribeiras e os panos todos cheos de vieiras……………”
“……rogasen a Dios les declarase el enigma de aquellas veneras, de que fe hallaua adornado: Ellos lo hizieron y les respondió una voz, que aquellas veneras era inssignias de que andarian adornados los devotos y Peregrinos de Satiago por suyos, y que por ellas como suyas seria conocidos y gratificados de Dios en esta vida y en la otra por el servicio que avian hecho al Apostol.
E despois, todo pelengrino que había d´ire no andante a Compostela en procura de Sant-Iago levaba por sinal as cumchas de vieira no chapeu e na escravina de saial”.